“Em meio à aparente contradição que cruza o debate latino-americano entre uma esquerda neodesenvolvimentista e outra ambientalista/identitária, é necessário encontrar pontes. Por um lado, não é mais possível se manter nos limites do desenvolvimento econômico ocidental, que está levando a humanidade a um beco sem saída, às portas do ‘fim do mundo’. Se deve pensar em desenvolvimentos alternativos para além do ‘desenvolvimento sustentável’, evitando reeditar à exaustão estratégias desenvolvimentistas depredadoras da natureza (reeditadas pelo lulismo inclusive). Por outro lado, as alternativas a serem construídas devem ser explicitamente pós-capitalistas; preservar a questão classista como elemento central (conjugada a todas as outras formas de opressão, tendo em conta pensamentos indígenas, negros, feministas…); e reconhecer o papel incontornável do Estado, gerido a partir de práticas e instituições de democracia radical. Pode-se dobrar a aposta na participação, e levar em conta que o povo sempre criou suas comunidades. As comunidades que se expressaram na América Latina através de organizações de moradores, ocupações de terra e moradia, caixas de auxílio mútuo, ligas camponesas, caracoles zapatistas, quilombos e palenques, llamadas de candombe, candomblés e santerías, afoxés, escolas de samba, cooperativas, ayllus, comunidades eclesiais de base, irmandades religiosas, movimentos indígenas, feiras, mutirões, empresas recuperadas… É muito difícil? Mas é nossa obrigação. Danilo nos convida a poetar.”

Fabrício Pereira da Silva, Trecho do Prefácio.